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segunda-feira, 1 de junho de 2015

Deserto dos desejos - Primeiro capítulo


– Existe um homem no deserto que concede desejos àqueles que o procuram.

Anton escutou tais palavras pela primeira vez da boca de um mercador de diamantes africano, amigo de seu pai, em uma das muitas festas que o velho empresário gostava de promover para reunir a nata da alta sociedade. Palavras sussurradas ao pé do ouvido com uma seriedade que não admitia qualquer traço de humor. O rapaz virou-se, assustado, e reconheceu o sujeito de olheiras profundas a quem tinha sido apresentado mais cedo.

– Ele vive no uivo do vento e se revela para os viajantes que lhe sacrificam um bode numa noite sem lua – detalhou o mercador de diamantes, sem que lhe fosse pedido. – Seu nome é Ogam e ele aparece montado em um camelo negro com olhos que são pura brasa. Você deve repetir seu nome três vezes na hora que matar o bode para que ele se apresente. Se não fizer isso, ele não lhe dará ouvidos. Ogam, Ogam, Ogam. Três vezes – alertou.

– Por que está me contando isso? – quis saber Anton, confuso. – Eu nem o conheço.

O mercador de diamantes olhou em volta, como se temesse ser ouvido por outras pessoas, e puxou Anton para o canto.

– Ele me avisou que eu o reconheceria quando o visse – revelou num fiapo de voz. – O próximo viajante a visitá-lo. Orientá-lo foi uma das condições que ele impôs para minha fortuna não escapar das minhas mãos. Deus sabe o quanto procurei por você nos últimos sete anos, garoto. Cheguei a pensar que nunca fosse encontrá-lo.

– Mas... como sabe que eu sou o cara certo? – insistiu Anton.

O mercador de diamantes deu de ombros.

– Eu simplesmente sei – respondeu antes de lhe lançar um sorriso misterioso e sumir no meio da multidão.

Anton nunca mais viu o mercador de diamantes e, coincidentemente ou não, partiu numa viagem de férias para o Egito na manhã do dia seguinte. O jovem chegou a pensar na possibilidade de tudo não ter passado de uma piada de seu pai. Exceto que isso lhe parecia improvável. O velho Karl Christian era famoso por sua falta de senso de humor e pelo desinteresse quase completo pelas novidades nas vidas dos filhos. Mais de uma vez esqueceu a data de aniversário de Anton e de seu irmão, Jesse.

– Tempo é dinheiro – repetia o velho Karl, como um disco arranhado, sem paciência para qualquer coisa que não fossem negócios.

Além disso, Anton não acreditava que o mercador de diamantes estivesse brincando. Se lhe perguntassem, provavelmente não saberia dizer o porquê. Provavelmente responderia que era o que seus instintos lhe diziam. Ou que a verdade possuía um som diferente. Seja como for, não importava muito. Anton era o filho caçula de um empresário bilionário e bastava que estalasse os dedos para que seus mínimos desejos fossem atendidos. Por mais curioso que o episódio lhe tivesse deixado, não via motivos para procurar um desconhecido num deserto durante uma noite sem lua. Ou para matar um bode. Tudo que desejava era curtir alguns dias longe de casa, sem ninguém para julgá-lo – e em boa companhia.


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